A infância é um tempo sensível, repleto de descobertas e escuta atenta do mundo ao redor. É também nesse período que a conexão com a natureza se revela de forma mais autêntica. Segundo Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, autora do livro Bichos Vermelhos e conhecedora das relações entre infância, literatura e meio ambiente, as crianças são capazes de ouvir os sinais da floresta com uma profundidade que, muitas vezes, os adultos já perderam.
Escutar a natureza não é apenas perceber sons ou observar paisagens. É sentir que há um diálogo possível entre seres humanos e o planeta. Para isso, a educação ambiental desempenha um papel central: ela ajuda a traduzir o grito silencioso das florestas, rios, animais e árvores, transformando esse chamado em atitudes de cuidado e empatia.
O chamado da floresta e a sensibilidade das crianças
As florestas estão em constante transformação, e seus desequilíbrios têm se tornado cada vez mais visíveis. A destruição de habitats, as queimadas, o desmatamento e a poluição são sinais claros de que a natureza pede ajuda. No entanto, é por meio da escuta sensível que as crianças podem desenvolver a consciência de que fazem parte de um todo — e que suas ações, por menores que sejam, impactam esse equilíbrio.

Lina Rosa Gomes Vieira da Silva acredita que esse tipo de escuta não precisa ser ensinado do zero. As crianças já possuem essa abertura natural para sentir, imaginar e acolher o mundo ao seu redor. Cabe à escola, à família e à sociedade cultivar esse potencial com experiências educativas significativas.
Literatura infantil como amplificadora das vozes da natureza
Livros infantis que tratam do meio ambiente ajudam a tornar visível o que, muitas vezes, é invisível aos olhos. Ao ler uma história em que uma árvore fala, um animal pede ajuda ou uma floresta chora, a criança compreende que a natureza também comunica — mesmo que sem palavras.
De acordo com Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, é justamente essa metáfora poética que permite à criança desenvolver um olhar ecológico mais sensível e comprometido. Em Bichos Vermelhos, por exemplo, a autora dá vida a espécies ameaçadas de extinção, apresentando seus conflitos de forma delicada, mas impactante. A obra funciona como um convite à escuta atenta e à ação transformadora.
Experiências que favorecem a escuta ativa da natureza
Além da literatura, vivências diretas com o ambiente natural fortalecem essa escuta. Caminhadas ao ar livre, hortas escolares, observação de pássaros, oficinas de arte com elementos da natureza e atividades de exploração sensorial ajudam as crianças a desenvolver presença e atenção ao que a floresta comunica.
Lina Rosa Gomes Vieira da Silva ressalta que não é preciso sair da cidade para escutar a natureza. Até mesmo em pequenos jardins, canteiros ou parques, é possível ensinar as crianças a perceber os sons do vento, o canto dos insetos, as texturas das folhas e o cheiro da terra. Tudo isso contribui para a formação de uma consciência ecológica profunda e afetiva.
Conclusão: educar para escutar, escutar para cuidar
Quando ensinamos as crianças a escutar a natureza, oferecemos mais do que conhecimento: oferecemos uma linguagem de afeto, respeito e pertencimento. A floresta, com seus silêncios e ruídos, pede socorro todos os dias — e são as crianças que têm mais condições de ouvir esse apelo com o coração.
O trabalho de Lina Rosa Gomes Vieira da Silva mostra que essa escuta pode ser cultivada por meio da literatura, da arte e da experiência sensível com o mundo. Educar para escutar é o primeiro passo para cuidar, e cuidar é o gesto mais urgente que podemos ensinar às novas gerações.
Autor: Eslovenia Popova